Voto de Pesar pelo Falecimento de António Joaquim Gervásio
Atualizado em 28/08/2020Faleceu no passado dia 10 de janeiro de 2020, com 92 anos de idade António Gervásio, montemorense, destacado antifascista que carregava consigo uma longa história de luta em prol de uma sociedade mais justa.
António Gervásio nasceu a 25 de fevereiro de 1927 em São Mateus, Nossa Senhora da Vila, Montemor-o-Novo, onde ainda muito jovem se fez operário agrícola.
Começaria também cedo a combater o fascismo participando e dirigindo várias lutas, nomeadamente greve nas ceifas, contra o desemprego, por melhores jornas.
Em 1945 aderiu ao Partido Comunista Português, o seu partido de sempre, onde militou até ao fim da vida. Passou à clandestinidade em 1952. Foi um dos dirigentes mais destacados na luta histórica que, em 1962 culminou com a conquista das 8 horas de trabalho pelo proletariado agrícola do Sul.
Ao longo da vida, quer durante os 22 anos de clandestinidade, quer depois da Revolução, desenvolveu uma intensa atividade em diversos organismos do seu partido, sempre com elevada responsabilidade. Foi membro do Comité Central, da sua Comissão Executiva, Comissão Política e Comissão Central de Controlo.
Foi preso três vezes, em 1947, 1960 e 1971. Totalizou cinco anos e meio nas prisões do Aljube, de Caxias e de Peniche. Foi brutalmente torturado nas prisões de 1960 e 1971, com espancamentos até à perda de sentidos e a tortura do sono, sendo impedido de dormir durante 18 noites e 18 dias seguidos, cerca de 400 horas. No julgamento de maio de 1961, foi espancado em pleno Tribunal da Boa Hora por denunciar as torturas da PIDE. Nunca denunciaria um companheiro de luta ou a sua Organização.
Na sua segunda prisão participou na célebre fuga de Caxias no carro blindado de Salazar, a 4 de dezembro de 1961, com mais sete camaradas, retomando de imediato a atividade partidária na clandestinidade.
Aquando do 25 de Abril de 1974 estava na prisão do Forte de Peniche, após a condenação a 14 anos de cadeia e «medidas de segurança» em 1971, tendo sido um dos presos políticos libertados na madrugada de 27 de Abril.
Após a Revolução foi deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República. Integrou a Assembleia Municipal de Montemor-o-Novo durante vários mandatos.
Participou diretamente em todo o processo da Reforma Agrária nos campos do Sul, na liquidação do latifúndio, na constituição de Unidades Colectivas de Produção, e na luta sem tréguas na sua defesa.
Em 4 de abril de 2007 foi-lhe atribuída pela Câmara Municipal de Montemor-o-Novo a Medalha de Honra “Liberdade, Progresso e Justiça Social”
António Gervásio deixou-nos ainda valiosos testemunhos da sua rica experiência de vida e de luta, nomeadamente o seu mais recente livro, «Histórias da Clandestinidade», contribuindo para preservação da memória do que foi a luta antifascista na clandestinidade.
António Gervásio dedicou a sua vida à causa revolucionária, à emancipação dos trabalhadores e dos povos, à democracia, à resistência antifascista, à Revolução de Abril e na defesa das suas conquistas, lutando sempre por uma sociedade mais justa, liberta de opressão.
A firmeza dos seus ideais fez com que todos os que tiveram oportunidade de conviver com António Gervásio tenham tido por ele o mais profundo respeito e o identifiquem como um homem corajoso, determinado e profundamente humano.
Pelo seu percurso de vida a Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, reunida em sessão ordinária de 15 de janeiro de 2020 delibera:
1 – Aprovar o Voto de Pesar pelo falecimento de António Joaquim Gervásio destacado antifascista e lutador pela liberdade e justiça social, guardando um minuto de silêncio em sua memória;
2. Manifesta à sua família e ao seu Partido as mais sentidas condolências, transmitindo o teor deste Voto de Pesar.
Aprovado por Unanimidade em Reunião de Câmara Municipal de Montemor-o-Novo de 15 de janeiro de 2020.